Projeto para mulheres vítimas de violência recebe quase 10 mil denúncias

Escrito por em 31/03/2022

Nascido no início da pandemia de Covid-19 para acolher mulheres vítimas de violência doméstica, o projeto Justiceiras completa dois anos nesta quinta-feira (31). De lá para cá, a rede de apoio recebeu cerca de 9.483 pedidos de ajuda, que foram atendidos pelas quase 10 mil voluntárias.

O levantamento de dados colhidos pela campanha ao longo dos últimos dois anos mostra que cerca de 7.000 mulheres são vítimas dos ex ou de atuais parceiros. Além disso, mais de 3.000 vivem com o agressor.

A violência psicológica é a agressão mais frequente entre as mulheres e manifestada por 82,96% delas, seguida da patrimonial (68,59%), física (59%) e sexual (52,48%).

Para a promotora Gabriela Manssur, referência no combate à violência contra a mulher no Brasil e criadora do Justiceiras, a denúncia aos abusos psicológicos é um dos pontos peculiares do projeto, mas ela chama a atenção ainda para o fato de que nada impede de que a mulher sofra mais de um tipo de agressão.

Isso porque esse tipo de denúncia não ocorre com frequência quando a mulher procura um órgão de defesa. Manssur explica que isso acontece por dois motivos principais: o primeiro, porque é comum que ela não se identifique como vítima desse tipo de violência. Além disso, não é raro que profissionais que atuem nesses ambientes não saibam como levar o fato às autoridades.

Ela afirma que, nesses casos, como o agressor não bate, não deixa marcas aparentes, é como se a violência não se materializasse. “Só vemos a mulher vítima de violência quando ela está com o olho roxo, mas muitas vezes ela está internamente dilacerada por conta dessa desqualificação cotidiana em relação a sua autoestima.”

Manssur comenta ainda que os abusos muitas vezes se estendem a outros integrantes da família. “É muito perigoso porque esses comportamentos vão se repetindo. Esses filhos da violência psicológica acabam repetindo esses relacionamentos ou são vítimas de abusividades. Isso acaba adoecendo a família e, futuramente, a sociedade.”

A maior parte das mulheres atendidas pelo Justiceiras tem entre 31 e 41 anos, são do estado de São Paulo (46,24%) e são de baixa renda. Cerca de 70% delas recebem até um salário mínimo, sendo que 2.773 do total não tinham renda alguma e 3.603 delas estavam desempregadas. Entre os relatos, 7 em cada 10 mulheres relataram situações de média ou de alta gravidade.

Fonte: Jornal de Beltrão


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