Acústicos & Valvulados completa 30 anos
Escrito por Redação Máxima FM 90,9 em 07/07/2021
Foi em uma festa, em 06 de julho de 1991, que Acústicos & Valvulados fizeram a primeira apresentação. A banda começou a ser arquitetada pouco tempo antes, em uma celebração de Natal. Nascido da farra, o grupo não poderá promover uma chalaça para celebrar os 30 anos de estrada por conta da pandemia. Em compensação, está lançando a coletânea Diamantes Verdadeiros Vol.II — With a Little Help From Our Friends, que chega em CD. Nas plataformas de streaming o disco já está disponível.
O álbum comemorativo reúne releituras de dez canções da trajetória da Acústicos & Valvulados. Nove delas foram disponibilizadas como singles nos últimos meses. A nova versão de Cinco Frases, contando com a participação de Frank Jorge, é a novidade.
As músicas do novo disco são faixas que ficaram de fora da coletânea Diamantes Verdadeiros — O Top 10 da Era do Rádio, de 2014, que inclui músicas marcantes do grupo — como A Minha Cura, Ao Vivo e a Cores, Bilhete, A Espera, entre outras.
Dessa vez, a banda tem a ajuda de amigos. Além de Frank, todas as faixas do disco contam com a parcerias: Henrique Portugal (Skank), Rafa Machado (Chimarruts), Serginho Moah (ex-Papas da Língua), Alemão Ronaldo, Carlinhos Carneiro (Bidê ou Balde/Império da Lã), Fabrício Beck (Vera Loca), Luciano Albo (ex-Cascavelletes), Jacques Maciel (Rosa Tattooada), Duda Calvin (Tequila Baby), Beto Bruno (ex-Cachorro Grande), Luciano Leães e Vicente Guedes.
— Chamamos cada amigo para cantar cada som de acordo com aquilo que imaginávamos que seria uma contribuição a ver com a referência do convidado e com a nossa história — explica o vocalista da banda, Rafael Malenotti.
Da festa rockabilly à estrada
Tudo começou em uma festa rockabilly no Natal de 1990. Malenotti surgiu com uma fita VHS do grupo americano Stray Cats. Lá estavam Alexandre Móica (guitarra), Paulo James (bateria) e Roberto Abreu (baixista da A&V até 2004), que já tinham sua banda. Todos ficaram hipnotizados, assistindo à fita em looping da 1h até as 7h. “Nunca tínhamos visto um clipe sequer do Stray Cats, quanto mais um VHS inteiro. Virou o centro da festa”, recorda Móica.
A afinidade de Malenotti, que na época integrava o grupo Os Nelson, com o trio foi instantânea. Prontamente, eles tiveram a ideia de formar uma banda.
A primeira apresentação aconteceu em julho do ano seguinte, na festa Moondog’s Rockabilly Party, na Sociedade Italiana, no Bom Fim. Ao serem questionados sobre o que se lembram daquela noite, a banda é uníssona: muito pouco. “Havia uma piscina infantil de mil litros, com garrafas de cerveja. Era festa open bar para 150 pessoas. O bolor foi brutal”, relata Malenotti.
Com repertório autoral e sonoridade influenciada pelo rockabilly, A&V foi se consolidando no underground. Viajaria o Brasil, apareceria na MTV, integraria o álbum split Chá das Quatro (1994), dividido com outras três bandas (Mr. Papoo, Pura Sangre e Quintos dos Infernos), até finalmente lançar seu disco de estreia, em 1996, God Bless Your Ass. Ainda com maior parte do repertório em inglês, o trabalho seria uma rebarba da fase rockabilly do grupo, já trazendo duas faixas em português — Minha Fama de Mau (cover de Erasmo Carlos) e a jovenguardiana A 100 Por Hora.
“Sempre nos dizíamos para experimentar compor português. Como nossas referências imediatas eram o rockabilly, como os Stray Cats, e o rock original dos anos 1950, nossas composições eram naturalmente em inglês”, diz o baterista Paulo James, principal compositor do grupo.
A língua portuguesa passaria a predominar a partir do segundo disco, que leva o nome da banda, de 1999. O álbum entraria para o panteão do rock gaúcho, com clássicos como Fim de Tarde com Você, Até a Hora de Parar e O Dia D é Hoje. Aliás, o leque de clássicos se multiplicaria nos trabalhos seguintes — Remédio, Milésima Canção de Amor, O Nome Dessa Rua, Suspenso no Espaço, Deus Quis, entre outras. Naquele momento, no final dos anos 1990, a sonoridade da banda se ampliaria.
“Há um lado de folk, que desemboca em Fim de Tarde e Quem Me Dera. Tínhamos isso mais ou menos no início, mas acentuou ali. Tem também um astral de anos 1960 que não existia na banda, como O Dia D é Hoje, esse tipo de groove. E ainda essa influência do rock brasileiro e da Jovem Guarda“, descreve Paulo.
Foi nessa época que a banda passaria por um momento chave de sua trajetória: tocar para 15 mil pessoas no Gigantinho, abrindo para Pato Fu e Os Paralamas do Sucesso. Foi ali que os integrantes da A&V passaram para o outro lado do balcão, como definem, dividindo palco com um grupo que anteriormente eles assistiam aos shows — no caso, Os Paralamas.
Acústicos & Valvulados foram atravessando os anos 2000 com mudanças: Roberto Abreu deixaria a banda, e entrariam Diego Lopes (baixo) Daniel Mossman (guitarra). O grupo se tornaria independente em 2010, criando seu próprio selo (Mico & Jegue) e administrando a própria carreira. Nessa fase, incrementou a realização de shows. Na pandemia, passou a tocar em lives, na esperança de voltar logo à estrada.
“Somos uma banda estradeira, mais do que de estúdio”, define Paulo. “Acho que a grande conquista mesmo de completar 30 anos é conseguir estar de boa nessa barca entre estrada e palco”.
Ou seja, o grupo completa 30 anos em festa, embora provisoriamente a distância.
“A banda se conheceu numa festa de Natal, fizemos nosso primeiro show numa festa… Modéstia à parte, somos especialistas em fazer festa (risos)”, brinca Malenotti.
Móica arremata: “nesses 30 anos, fizemos mais festa do que música (risos)”.
Fonte: GZH