Estes oito indicadores mostram que a economia está em recuperação

Escrito por em 04/11/2020

Jamais saberemos se a economia brasileira teria de fato engrenado e crescido com vigor neste ano se não fosse a pandemia da Covid-19, que provocou um baque tão forte a ponto de voltarmos à recessão. Mas, as previsões mais sombrias tampouco se confirmaram e agora muitos indicadores apontam para uma recuperação da atividade econômica.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, não tem dúvidas sobre a retomada. “Eu achava que seria um crescimento em V tipo Nike, com a perninha da recuperação crescendo um pouco mais devagar. Pois bem, o que tá acontecendo é um crescimento em V mesmo, com uma subida rápida”, declarou, em reunião de comissão do Congresso.

A recuperação celebrada pelo ministro não significa falar em crescimento para 2020, mas mostra que o tombo será menor do que o esperado no início da crise. Guedes comemorou os dados de emprego formal, que estão em recuperação. Mas também há bons indicadores mostrando a recuperação de setores produtivos, que se refletem em projeções “menos ruins” para o PIB.

Por outro lado, nem tudo são flores: a pressão inflacionária, com disparada no preço dos alimentos, e a queda do investimento estrangeiro são provas disso. Outro fator preocupante é o mercado de trabalho: o setor informal foi duramente atingido e o desemprego é recorde – e crescente.

O caminho da retomada começa a se delinear, mas não está claro. Ainda pesam algumas incertezas em relação à segunda onda da Covid-19 pelo mundo, resultados eleitorais – tanto das eleições americanas quanto das municipais aqui no Brasil – e importantes votações, como as da PEC Emergencial e Orçamento, que estão pendentes.


Separamos oito indicadores que mostram a recuperação da economia

1- Balança comercial

Apesar de a situação global estar delicada, a balança comercial brasileira está positiva no acumulado dos nove primeiros meses de 2020: acumula superávit de US$ 42,4 bilhões. De acordo com a Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério da Economia, o resultado é o segundo melhor da série histórica para o período, perdendo apenas para igual período de 2017 (US$ 53,3 bilhões). O saldo elevado, porém, resulta do fato de que as importações (com recuo de 14%) caíram mais que as exportações (-7%). Segundo a última edição do boletim Focus, do Banco Central, publicada em 3 de novembro, o mercado prevê saldo de US$ 58,7 bilhões ao fim do ano.

2- Indústria

Depois de uma queda acentuada no trimestre móvel de fevereiro a abril, a indústria começou a reagir em maio e já acumula quatro meses seguidos de alta, segundo a Pesquisa Industrial Mensal do IBGE, atualizada até agosto. Ainda que não tenha sido suficiente para compensar as perdas acumuladas no ano (-8,6% na comparação com 2019), os níveis mais recentes de produção são próximos aos de antes da pandemia, e isso se reflete na confiança do empresariado. O Índice de Confiança da Indústria (ICI), da FGV, completou quatro meses de alta em outubro e chegou a 111,2 pontos, maior nível desde abril de 2011.

3- Comércio

Após quedas em março e abril, o comércio varejista registrou quatro altas mensais seguidas até agosto, quando atingiu o maior patamar de vendas desde 2000. De acordo com a Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), do IBGE, o resultado de agosto foi 6,1% superior ao do mesmo mês de 2019. Com isso, a retração das vendas no acumulado do ano ficou mais suave, e agora está em 0,9%. Enquanto isso, o Índice de Confiança do Comércio (ICOM), da FGV, chegou a 95,8 pontos em outubro. Depois de cinco meses de alta, o indicador recuou nesse último mês em meio à incerteza sobre o período pós-auxílios do governo e à cautela dos empresários com a sustentabilidade da recuperação.

4- Agropecuária

Menos afetada pela pandemia, a produção agropecuária não caiu, e a demanda cresceu aqui dentro e lá fora. Muitos produtores aproveitaram o câmbio mais alto para exportar grãos e carnes, movimento que, associado ao aumento do consumo interno, provocou pressão inflacionária sobre o preço dos alimentos. O Ministério da Agricultura estima que o valor bruto de produção agropecuária (VBP) deve encerrar 2020 em R$ 806,6 bilhões, de acordo com a parcial de setembro, com aumento de 11,5% sobre o valor de 2019, que já tinha sido o maior da série histórica iniciada em 2000 (R$ 723,4 bilhões).


5- Emprego formal

A geração de empregos com carteira assinada subiu pelo terceiro mês seguido. O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério da Economia, apontou saldo de 314 mil postos de trabalho em setembro, melhor resultado de 2020 e também o setembro mais forte desde o início da série, em 1992. No acumulado de janeiro a setembro, o resultado ainda é negativo, com fechamento de 559 mil vagas.

6- PIB

O pagamento do auxílio emergencial e a combinação dos fatores citados acima têm melhorado as projeções para o PIB de 2020. Ele ainda será negativo, mas não terá o tombo que chegou a ser estimado no início da pandemia, quando algumas instituições projetaram queda próxima de 10%.

Na última edição do Boletim Focus, do Banco Central, divulgada em 3 de novembro, a projeção mediana de bancos e consultorias para o PIB era de -4,81%. Há um mês, a estimativa era de -5,02% e, no pior momento do ano, ficou próxima de 6,5%. A projeção do governo é de queda de 4,7%.

Após registrar grandes recuos em março (-5,93%) e abril (-9,27%), o IBC-Br – um indicador de atividade econômica calculado pelo Banco Central que busca antecipar a tendência do PIB – registrou altas no quadrimestre seguinte. No acumulado do ano, o resultado está negativo em 5,44%. A última atualização do Indicador Antecedente Composto da Economia Brasileira (IACE), do FGV/Ibre e The Conference Board (TCB), mostra alta de 1,2% em setembro, alcançando 121,9 pontos – isso representa 1,9 ponto acima do período pré-pandemia.

7- Fluxo nas rodovias

Com a retomada gradual das atividades, mais pessoas e cargas estão circulando pelo país. Isso já foi detectado pela Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR), que mensura o fluxo de movimento nas estradas como uma maneira de, indiretamente, captar níveis de atividade econômica, consumo, produção e investimento. De agosto para setembro, a circulação total de veículos subiu 5,1%, com destaque para os leves. E o fluxo de veículos pesados ficou 5% acima do registrado em setembro de 2019. No acumulado dos nove primeiros meses do ano, a movimentação total de veículos encolheu 16,3%, puxada muito mais pelos leves (-20,7%) que pelos pesados (-3%).

8- Papelão ondulado

A indústria de papelão ondulado, que trabalha com produção apenas por encomenda, teve desempenho inferior ao de 2019 apenas em abril e maio, e superior em todos os demais. Em setembro, a expedição de caixas, acessórios e chapas de papelão ondulado cresceu 15,4% sobre o mesmo mês de 2019 e alcançou 351,2 mil toneladas, maior volume da série da ABPO, representante do setor, iniciada em 2005.

Fonte: Gazeta do Povo – Fernanda Trisotto




Marcado como

[There are no radio stations in the database]