Imola e o tamanho do impacto de Ayrton Senna no automobilismo
Escrito por Redação Máxima FM 90,9 em 31/10/2020
Ímola é lembrada mundialmente, ao menos uma vez por ano, sempre perto do dia 1º de maio. Em ano de corrida da Fórmula 1 no Autódromo Internazionale Enzo e Dino Ferrrari, duas vezes. Em uma sexta-feira sem treinos livres no GP da Emilia-Romagna, que marca a volta da categoria ao local após 14 anos, ainda mais. E o motivo da lembrança é sempre o mesmo: homenagens a Ayrton Senna, que morreu após um acidente na extinta Curva Tamburello, no GP de San Marino de 1994. O memorial no local provocou uma enxurrada de posts de pilotos e equipes nas mídias sociais relembrando o tricampeão. Ótima oportunidade de debater o impacto de Senna até hoje no esporte.
A foto que abre este post é um grande exemplo disso e vi isso pessoalmente em 2014, quando estive em Imola para cobrir um festival em homenagem a Senna nos 20 anos de sua morte. A estátua do piloto colocada no lado interno da – hoje – Variante Tamburello recebe visitantes de vários países do mundo. Só nesta imagem podemos ver as bandeiras, claro, do Brasil, mas também da Grécia, Ucrânia, Itália, México, Espanha, Escócia, Inglaterra, França, Portugal, República Tcheca, Eslováquia, Croácia e Grã-Bretanha. Quando fui ao memorial, há seis anos, pude presenciar isso. Aliás, cerca de 20 mil pessoas estiveram no circuito naquela ocasião para celebrar a memória de Senna.
Imola é uma cidade marcada pelo trágico fim de semana do GP de San Marino de 1994. Por esse triste motivo, entrou no mapa do turismo internacional de quem gosta de corridas. O circuito fica bem no meio da cidade, ao lado do Rio Santermo, e dentro de um parque que conta, entre outros equipamentos, com o estádio do Imolese, clube da Série C do futebol italiano. Mas só se fala em Ayrton Senna na cidade (e em Roland Ratzenberger, mas em bem menor escala), não importa o período do ano. O que é natural, aliás. A morte do piloto brasileiro ao vivo em uma corrida de Fórmula 1 transmitida para todo o mundo foi um dos eventos de maior impacto da história do esporte. Era a perda do principal nome da maior categoria do automobilismo.
Antes de seguir, um desvio. Para quem pergunta sobre Roland Ratzenberger, é completamente natural que Ayrton Senna seja mais lembrado por aquele fim de semana. É cruel, claro, mas perfeitamente compreensível. Primeiro que, tradicionalmente, as corridas têm mais audiência na TV – e público nas arquibancadas – que as sessões de treino. Depois, Senna era o principal nome do automobilismo na época, talvez até do esporte mundial. Ratzenberger, por sua vez, corria pela pequena Simtek, e tinha apenas 2 GPs no currículo. É natural que as pessoas lembrem mais de Senna – inclusive, aposto que a revolução de segurança que a Fórmila 1 viveu após a temporada de 1994 não teria sido tão intensa se a tragédia do fim de semana ficasse apenas no acidente do austríaco. A morte de um ídolo teve muita participação nisso.
O impacto de Senna na geração atual da F1
Metade do grid atual da Fórmula 1 nasceu após a morte de Ayrton Senna, em 1994. E 19 dos 20 pilotos nunca correram pela categoria no circuito italiano – a exceção é Kimi Raikkonen. Mesmo assim, a internet foi inundada por homenagens ao piloto brasileiro na manhã desta sexta-feira. Sebastian Vettel, um dos que pôde testemunhar o talento do tricampeão nas pistas (e que é avesso às mídias sociais), fez questão de ir ao local, registrar o momento com a câmera de seu celular e, claro, reverenciar a memória de um dos maiores pilotos de todos os tempos.Ah, mas vocês podem argumentar que Vettel é um ponto fora da curva, porque é um apaixonado por automobilismo. O alemão seria uma daquelas pessoas que sentaria para um papo com você e discutiria um detalhe da Ligier de Martin Brundle em 1993 (piloto e equipe citados aqui apenas para efeito de exemplo). E o que dizer de Pierre Gasly, piloto da AlphaTauri. Ele é francês e nascido em 7 de fevereiro de 1996. E tem Ayrton Senna como ídolo. É uma admiração tão grande que ele vai correr o GP da Emilia-Romagna com a clássica pintura do brasileiro.
Vettel e Gasly são dois grandes exemplos do impacto que Ayrton Senna teve no esporte. E claro, Lewis Hamilton, que não perde uma oportunidade de prestar sua reverência ao brasileiro. O maior piloto da Fórmula 1 atual e próximo de ser o dono dos maiores números de todos os tempos da categoria sempre fez questão de dizer que seu ídolo era o tricampeão da Fórmula 1, inclusive usando pinturas de capacete em homenagem a Senna, geralmente no GP do Brasil.
Em suma, este fim de semana da Fórmula 1 em Imola ajuda a entender o tamanho que Ayrton Senna tem ainda hoje no esporte. E, aliás, também corrobora uma impressão que tenho: o tamanho do legado do brasileiro é muito maior fora do Brasil do que internamente. Minhas viagens a trabalho pelo mundo me ajudaram a perceber isso. É impressionante a idolatria que estrangeiros de países tradicionais no automobilismo têm por Senna. Vi isso em quase toda a Europa e fora dela também. É o impacto do tricampeão presente até hoje no esporte.
Fonte: Por Rafael Lopes – Site Voando Baixo